Querem por aí que a Mata Nacional do Buçaco seja uma maravilha de Portugal. Coisa mais absurda não há. Há dois séculos pelos menos a Mata Nacional é uma maravilha deste país. Mas nem sequer a palavra maravilha me parece a mais adequada para designar o espaço. Lembra-me logo o Circo Maravilhas do Manuel Guimarães, a fita Saltimbancos e as intrincadas desgraças que fazem letra no fado e lágrimas na choradeira colectiva, que são os oitocentos séculos de história que nos pertencem!
Mas traz-me por outro lado á ideia a figura encantada de Alice no país das maravilhas correndo atrás do coelho e do relógio até acordar do sono.
O senso da mentira bem contada. O sonho . Diríamos hoje, o markting perfeito se não tivéssemos respeito pela sageza e pela imaginação do escritor.
Nada disto é a Mata do Buçaco. Em primeiro lugar, não é maravilha natural. Nada tem a ver com o Parque da Serra do Gerês, com o vale glaciário da Serra da Estrela, com o Sapal de Castro Marim ou com a Costa Vicentina.
Ao contrário destes espaços ambientais produtos da natureza, o Buçaco é um jardim botânico construído pelo homem. Um belissimo jardim botânico, depositário de variadas espécies, sem dúvida, mas não deixa de ser um espaço burguês iniciado por frades e continuado por inquisidores e pertença do Estado desde 1834 ano em que acabaram as ordens religiosas. E o Estado, roubada a Mata á exploração dos monges que a plantaram, raras vezes soube tratar dela com decoro e dignidade.
Hoje acontece o mesmo que n'outras crises. Entregue a fundações de partidos políticos ao serviço das suas clientelas, a mata nacional é envolvida numa espécie de concurso de beleza com que alguns sustentam a vida que levam.
Mas apesar do reino ser pequeno e não ter muros, nem o rei de pé se consegue fazer ver além das velhas praças de Elvas ou Almeida, as nossas fronteiras também artificiais, e tudo isto me parece esforço inglório. Nem o Buçaco sai dignificado nem a divulgação premiada, seja lá qual for o prémio atribuido. É pouco para o que está á vista!
Se falássemos da classificação do espaço pela Unesco, isso sim seria outro assunto , mas desta barrela para consumo interno e dizer depois que se fez grande coisa sem fazer coisa nenhuma , não. Quando alguém pegar como deve ser, deve pegar o animal pelo sítio , não pelas bordas !